Ao pensarmos em ciência, é possível que nos lembremos de grandes descobertas e invenções associadas a nomes de cientistas majoritariamente do gênero masculino, como Einstein, Newton e Pasteur, por exemplo. Só poucas vezes surgem nomes de mulheres, como o de Marie Curie (1867-1934), a qual - mesmo com pouca tecnologia e equipamentos - conseguiu descobrir a radioatividade e dois novos elementos na tabela periódica.
Mas isso se dá porque elas praticamente não existiram ou por não sabermos quase nada a respeito delas e sobre seus feitos? Segundo Londa Schiebinger, ambas as hipóteses estão corretas. Por um lado, historicamente a ciência se fez predominantemente por homens. Por outro, a história da ciência não deu a elas a devida visibilidade enquanto protagonistas.
Atualmente a participação e o reconhecimento dos trabalhos desenvolvidos por mulheres na ciência e tecnologia vêm se alterando. O impacto dessa mudança começa a ser sentido, mensurado e qualificado. Estudos sociais da ciência e tecnologia têm sido, em boa medida, responsáveis por avaliar, por exemplo, processos de inclusão, permanência e sucesso na carreira de mulheres nas STEM (sigla em inglês para o campo das ciências, tecnologias, engenharias e matemática).
Deste modo, em maio de 2020, a ONU Mulheres tornou público um relatório fruto da investigação do tema na América Latina e Caribe. Nele, avanços são registrados, como a adoção - por governos, universidades e ONGs - de métricas para cobrar e pautar políticas públicas que apoiem a permanência de estudantes na graduação, provendo ampliação de licença maternidade, vagas em creches, ouvidoras para denúncia de violência de gênero, entre outras medidas.
No Brasil, recentemente a Universidade de São Paulo divulgou seu relatório com números e ações acerca do cenário de mulheres na STEM. Nele fica evidente a diferenciação de gênero. A começar pela empregabilidade de docentes. Em 2020, 72% dos cargos eram ocupados por homens. A discrepância entre os gêneros na graduação é vista também a partir da distribuição de vagas nos cursos de ciências exatas. Entre os anos de 2010 e 2019, aumentou de 29,5% para 33,37% o número de alunas formadas (um acréscimo de apenas 4,2%). Assim, mesmo com dados que mostrem avanço na conclusão, ainda podemos considerar um número pequeno quando comparado às porcentagens de homens formados.
Durante a pandemia, nomes como os das pesquisadoras Jaqueline de Jesus e Ester Sabino estiveram em alta relevância. A equipe em que atuam conseguiu sequenciar o coronavírus em apenas 48 horas, contribuindo para o maior mapeamento genético da doença. Mais recentemente, a doutoranda em física, Roberta Duarte, reduziu o tempo de cálculo para obter a simulação de buracos negros em 32 mil vezes, resultado que acelerará a compreensão da formação do universo.
Citar tais feitos e revelar novos nomes no fazer científico são de extrema importância para o debate de como as mulheres, de fato, são tratadas no meio e qual o percentual que representam. Além disso, vincular tais avanços aos seus nomes e contar a trajetória dessas mulheres agem no presente como retratação às invisibilizadas no passado e estimulam as cientistas e engenheiras do futuro. Por fim, com a busca da equidade de gênero nas carreiras de STEM, busca-se trazer maior diversidade, criatividade e inovação aos processos, produtos e serviços em ciência e tecnologia, algo do qual o Brasil ainda carece.
Fonte: https://exame.com/colunistas/impacto-social/o-que-ganhamos-com-mais-mulheres-nas-areas-de-ciencia-e-tecnologia/