A pandemia acelerou de forma exponencial a digitalização dos serviços no Brasil. De escolas, que passaram a ter aulas virtuais, às empresas, que adotaram o formato híbrido ou remoto de trabalho, esta tendência acentuou a procura por profissionais de TI – Tecnologia da Informação.
Essa busca, entretanto, encontrou um grande desafio: a falta de diversidade no setor. Em um momento que se discute ESG dentro da pauta de Diversidade, Equidade e Inclusão, é importante que talentos negros, LGBTI+, com deficiências (PcD) e de demais grupos minorizados ingressem na área de tecnologia.
Por isso, neste artigo você entende melhor a realidade do setor de TI no Brasil, as oportunidades para DE&I e dicas para recrutamento e seleção de talentos diversos.
Evolução da área de tecnologia ao longo dos anos
Se por muito tempo os profissionais de TI foram lembrados por meio de estereótipos ligados ao homem branco e ‘nerd’ – como evidencia o filme ‘A Rede Social (2010)’ – a história mostra outra realidade.
Hoje em dia já se reconhece que o pioneirismo na área de TI surgiu com uma mulher no século XIX. Ada Lovelace, matemática, criou o primeiro algoritmo com foco em processamento por meio de uma máquina, de forma que é considerada hoje em dia a primeira programadora da história.
No século seguinte, as mulheres continuaram à frente da programação. Como retratado no filme ‘Estrelas Além do Tempo (2016)’, as mulheres eram responsáveis pela ‘computação humana’, tarefa mecânica que consistia em realizar cálculos complexos sobre lançamentos de projéteis e demais atividades com alta demanda de cálculos.
Tudo começou a mudar a partir dos anos 1960 e 1970, quando a tecnologia deu um grande salto e, aos poucos, as mulheres foram excluídas deste processo. Como resultado, percebemos hoje em dia uma grande lacuna de profissionais diversos nas áreas de tecnologia.
A falta de diversidade na área de TI e tecnologia
Segundo um levantamento realizado pelo Google Brasil, 29% das pessoas acreditam que a TI é a área menos diversa das suas empresas. Ainda, 36% das pessoas da área de TI entrevistados apontam a sua própria área como a menos diversa.
O estudo vai além e mostra que 98% concordam que empresas com equipes focadas em DE&I oferecem mais oportunidades para o crescimento profissional de seus colaboradores.
Ou seja, o próprio setor já entende a importância da Diversidade e Inclusão para o avanço do ecossistema, o que indica um ponto favorável à inclusão de mulheres, pessoas negras, LGBTI+ e com deficiência na área de TI.
Desafios da inclusão em TI
De acordo com o estudo, a falta de mulheres em TI se destaca, principalmente, em cargos de liderança. Já no caso de pessoas que se identificam como LGBTI+, o levantamento aponta que homens gays afeminados, mulheres lésbicas e pessoas queer sofrem preconceito por serem considerados frágeis ou incapazes. No caso de pessoas trans – o “T”da sigla – o desafio está na formação profissional.
Em relação a talentos negros, o Google aponta que, para além do processo histórico de exclusão, há resistência em adotar programas de contratação intencionada destes profissionais. Por fim, no caso de talentos que possuem deficiência (PcD), o desafio está nas organizações promoverem planos de carreira e crescimento a estes profissionais.
Oportunidades para Diversidade na área de TI
TI é a área que mais cresce no Brasil e no mundo. Recentemente, a consultoria McKinsey lançou um estudo no qual aponta que o Brasil terá um gargalo de 1 milhão de profissionais de tecnologia até 2030 – maior que qualquer outro setor.
O desafio só aumenta, visto que 35% dos cursos da área de TI não obedecem os requisitos básicos demandados pelo mercado – ou seja, grande parte dos futuros profissionais irão precisar se especializar e realizar cursos paralelos ou após a graduação para atingir os requisitos das empresas.
Quando se observa em perspectiva, o gargalo fica ainda mais preocupante. Em 2018 o número de vagas abertas era de 100 mil. Em 2021, chegou a 200 mil. Estima-se que em 2024 serão cerca de 300 mil vagas, com o número crescendo ano a ano.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o Brasil forma, hoje em dia, anualmente cerca de 45 mil profissionais de TI – número que só aumenta o gap de vagas.
Dicas de recrutamento e seleção para profissionais diversos na área de TI
Como dito acima, existe uma grande oportunidade para a área de TI nos próximos anos, por isso é a hora de atuar pela inclusão de talentos negros, LGBTI+, trans, com deficiência e de demais grupos minorizados, seja por causa da ética social, seja pelo potencial de mão de obra disponível.
Confira algumas dicas para encontrar e recrutar estes talentos para sua organização.
- Facilite a porta de entrada na empresa: Revise as descrições de vaga e retire o que não é essencial para início imediato e que pode excluir talentos diversos. Em outros casos, no qual a hard skill é importante, mas pode ser facilmente desenvolvida, aposte em programas internos de treinamento e desenvolvimento. É o caso, por exemplo, do conhecimento de um outro idioma, como o inglês.
- Aposte em construção de redes: Divulgue as posições em coletivos ou perfis focados em vagas para grupos minorizados. Eles são uma rede potente e que pode trazer indicações qualificadas para sua organização.
- Crie ou atue como parceira em programas de formação de programadores: É importante que a organização consiga acessar talentos com pouca experiência para criar as futuras equipes mais sêniores da empresa. Por isso, participe ou atue como parceira de programas de formação e capacitação de programadores. É o caso do Nubank, que lançou um programa de formação de programadores em Salvador.
E da TREE, em parceria com a Gama Academy e a B3, que lançaram em 2021 o B3 Tech, projeto que visava acelerar o desenvolvimento de Pessoas com Deficiências por meio de uma experiência educacional inovadora em Back-end Java com profissionais referência no mercado. - Pense em ações de employer branding: A empresa deve buscar transmitir aos futuros talentos seu compromisso e ações realizadas em prol da Diversidade, sem fazer Diversity Washing. Estes talentos precisam ter confiança de que encontrarão uma liderança inclusiva e uma rede de apoio interna.
- Crie uma cultura inclusiva: É comum encontrarmos relatos sobre ambientes tóxicos em TI. Por isso, busque combater os vieses inconscientes e construir um ambiente saudável para os colaboradores, pensando uma cultura verdadeiramente inclusiva.
Essa Gestão da Diversidade deve contemplar desde palestras e conteúdos temáticos sobre grupos minorizados, até comitês de diversidade para discussão e conversas.
Fonte: https://treediversidade.com.br/diversidade-no-mercado-de-ti-no-brasil-desafios-e-como-recrutar/