É fato que durante a pandemia ficou ainda mais evidente a grande vulnerabilidade que as mulheres têm no ambiente de trabalho. Além disso, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em 2020 houve uma forte saída de mulheres do mercado de trabalho, que, por terem que atender às demandas dos afazeres domésticos, entre outras responsabilidades, não retomaram a procura por um emprego. Isso se deve a muitos fatores, mas principalmente porque 56,9% das mulheres na América Latina trabalham nos setores mais impactados pela pandemia, como turismo, manufatura, varejo ou trabalho doméstico remunerado. O mesmo relatório da CEPAL calculou que a taxa de desemprego das mulheres atingiu 12% em 2020.
Mas a crise não afetou as mulheres da mesma forma em toda a economia e, de fato, a pandemia ampliou as possibilidades em um dos setores em que há um potencial muito alto de crescimento: o mercado de tecnologia. Por um lado, a pandemia acelerou o consumo de bens e serviços digitais, e não podemos esquecer que as empresas em todo o mundo foram quase obrigadas a iniciar suas próprias transformações digitais, impulsionando a demanda por capital humano capacitado. Por outro lado, apesar de ser um dos setores com uma disparidade de gênero muito alta - na América Latina, menos de 20% das vagas tecnológicas são ocupadas por mulheres - nossa percepção é de que as empresas do setor demonstram bastante interesse na contratação de mulheres, visto que a falta de inclusão impacta diretamente na competitividade das organizações, em seus processos de contratação, em seu desempenho e, por fim, em seus resultados.
Na Laboratória, organização que busca inserir mais mulheres no setor de tecnologia, observamos que o talento feminino das 2.400 mulheres que se formaram em nosso bootcamp em nível regional foi pouco impactado pela pandemia: a taxa de empregabilidade manteve-se em 88%, o que denota a grande estabilidade e o potencial de crescimento que esta área oferece às mulheres.
É por isso que o setor digital pode ser uma oportunidade para incluir mulheres que querem dar a volta por cima e impulsionar suas carreiras profissionais, tenham ou não perdido o emprego devido à situação global da saúde. A pandemia mudou a vida de muitas pessoas, e as mulheres foram afetadas desproporcionalmente. As dificuldades são muitas e continuarão a ter impacto nos próximos anos, mas também há oportunidades que devemos aproveitar para construir um futuro diferente.
Isso é algo que nos emociona, pois estamos convencidos de que uma maior diversidade no setor é fundamental para crescermos não apenasem relação à economia digital, mas também como sociedade. A prova disso são as mais de 2.000 mulheres formadas na Laboratória que estão demonstrando, cada uma por sua função, que isso é possível.
Artigo publicado originalmente em Entrepreneur